quarta-feira, 11 de março de 2015

Perdas

De todas as zilhões de dores que existem no mundo, talvez a que mais doa seja a de perder alguém sem conseguir fazer nada.
Hoje eu enfrentei dois tipos de perda diferentes, mas talvez, igualmente dolorosas. Quando uma pessoa morre, vai pra outro plano, desencarna ou seja lá qual o nome que se tenha, dói tanto porque é como se um pedaço de você nunca mais fosse voltar.
É uma voz que você não vai mais ouvir, uma risada que você não vai mais escutar, uma bronca, um cheiro, são tantas coisas inúmeras e absurdas que o coração aperta e parece que você nunca mais vai respirar de novo.
Você volta a respirar, devagar e sempre, como se você se salvasse de um afogamento depois de longos minutos tentando se desvencilhar da água. As lágrimas se tornam menos frequente, a dor menos aguda, a ausência menos presente e aos poucos engatinhamos de volta pra vida tentando nos confortar na ideia de um dia morrer e reencontrar aqueles que foram antes.
Por outro lado, talvez a forma mais dolorosa de se perder uma pessoa não seja quando ela morre. Quando você percebe que por alguns fatores, inclusive alguns que são culpa sua, fizeram alguém que você ama se cansar e partir. Isso quebra você em tantos pedaços quanto aquele vaso de porcelana da dinastia chinesa que você derrubou sem querer e se partiu em dois milhões e meio.
Porque você tem plena consciência que a pessoa estará por aí, respirando, emprestando pra outras o prazer de dividir aquela risada que você ama, ou aquele tom de voz sonolento que você queria só pra você. A pessoa não partiu pra sempre, só resolveu que você talvez não merecesse mais compartilhar de sua companhia. E isso dói, porque a dúvida continua te assombrando: onde foi que eu errei? e se eu tivesse feito diferente? porque não eu?
E aí passam os dias, os meses e você continua vendo a pessoa nos lugares que vocês costumavam ir, nas músicas que ouviam, nos filmes que assistiram juntos, na comida favorita que você vai levar séculos pra digerir de novo sem sentir que tá passando mal.
Você se afoga em suas próprias lágrimas e acha que o sol nunca mais vai brilhar outra vez, porque não vai, não como antes, não como quando vocês estavam juntos e talvez ninguém nunca mais ria das suas piadas estúpidas ou entenda suas excentricidades.
E no fim de tudo, quem fica é quem sofre, independente do tipo da perda.
Como eu aqui, quase afogada, por ter sofrido as duas de uma tacada só.
A esperança? Que eu acorde amanhã e descubra que foi um pesadelo e nada aconteceu.
A realidade? Que Deus me dê dinheiro o suficiente pra comprar todo o chocolate que eu preciso agora.

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