quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Natália adora olhar a Lua. Distante, brilhante, gigante, girando sempre sabendo que sozinha até brilha, mas só brilha de verdade sob a luz do seu amigo Sol.
Natália adora raios e tempestades, admira a força das águas, dos ventos, da energia pura que desce dos céus limpando, levando tudo que há pela frente, lavando, varrendo e queimando ao mesmo tempo.
Natália gosta de tudo aquilo que parece grandioso, exagerado, poderoso, inexplicável. De tudo aquilo que a faz sorrir sem perceber e esperando que mais ninguém perceba a bobagem que é sorrir só porque a Terra deu outro giro e o Sol se pôs.
No fim das contas, Natália gosta mesmo da surpresa contrastante que é esperar que algo aconteça, ainda que com frequência, mas a cada dia de um jeito novo. Natália aprendeu a admirar todas as coisas sobre as quais não tem controle, nem entendimento, só a sensação de coração preenchido ao sentir os últimos raios, a primeira luz ou os primeiros respingos.
Natália gosta de enxergar a si própria como uma força dessas, que chega simples como um temporal diria a poeta e leva consigo o que encontra pela frente. E convive com verdadeiras forças da natureza, quando canta, dança ou conversa complexidades da vida madrugada a dentro, mesmo que elas não se reconheçam assim.
Natália tem sorte de se enxergar e enxergar o mundo como uma criança que ainda não quis crescer e que gargalha sozinha ao ser atingida pela chuva de verão. Mais sorte ainda tem de estar cercada por muitos sóis, que emprestam cor e luz pra todos os seus dias.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Super eu?

Detesto o super-homem.
Sempre detestei, aquela pose de pessoa perfeita, os cabelos que não despenteiam, os surtos que o transformam em ditador, o patriotismo doido. Nunca, nunca consegui ter um pingo de empatia por ele.
Legal era o Batman, o ar de mistério, o jeito taciturno de quem resolve tudo. Ou o Flash e sua alegria diretamente proporcional à sua inteligência. Até mesmo o Aquaman, naquela versão tosca que surfa em golfinhos me deixava mais feliz, ou o supergemeo que só sabe ser derivados de água, mas o superman nunca me desceu.
Achava impossível alguém manter aquela pose o tempo todo, ser tão compenetrado. Caramba, como que o infeliz tem a força de destruir o mundo todo e não faz nada? E quando faz é porque virou doido varrido e aí sai matando até o que não deve?
Não, não dava pra gostar do superman, ele não faria parte da minha incrível coleção de camisetas, não seria eu a usar o símbolo da esperança no peito, ou seria?
Sempre expressei minhas opiniões nada positivas sobre o "homem de aço" (olha que breguice) e quando pensava: " e se eu fizesse parte da Liga da Justiça, quem eu seria?" Eu nunca conseguia me incluir no grupo, não achava que eu podia ser parte de nada do gênero (não só porque eles não existem e eu não tenho super poderes), mas porque não me identificava com nenhum deles, não me via como protagonista de nada disso.
Pode parecer bobagem, mas eu raramente me identifico com o protagonista do que quer que seja, no  máximo tô ali no papel de amiga esquisita, quando me identifico como a melhor amiga da personagem já é uma vitória. Eu sou corpo de baile, não sou solista. Tô ali, presente e apoiando, mas na luz indireta nunca sob os holofotes. Se a ideia já me soa maluquice no faz-de-conta, na vida real então é beirando ao impossível.
Ontem o faz-de-conta deu três tapas e duas voadoras na minha cara. Ontem eu entrei num processo reflexivo tão intenso quanto as seções de terapia, ontem um amigo querido me disse que eu era o superbobo.
Eu esperneei, eu entrei em negação, eu usei todos os "mas" que eu tinha, um depois do outro eles caíram por terra. Coisinha após coisinha me provaram por a + b que se eu fosse alguém com poderes, eu seria o super.
As coisas esquisitas às vezes guardam verdades profundas, me fizeram olhar pelo espelho que eu evitei uma vida toda. Eu que nunca tive muita empatia por mim mesma, que convivo com a angústia de achar não ter feito o suficiente, que se não me segurar machuco as pessoas profundamente, que sinto amor pela vida, o universo e tudo mais, desejo o bem até a quem já me fez mal, eu tinha muito mais em comum com o boboca azul do que tinha me dado conta.
Parte da doideira de se achar fraca é nunca, nunca se identificar com ninguém forte. Com um dos heróis mais poderosos que o homem já inventou? Por favor, conta outra.
Parte da magia de ter as pessoas por perto é elas te enxergarem por um viés que você não tem.
Talvez eu ainda tenha que trabalhar na parte de manter o cabelo no lugar e aquele uniforme é irritante. Da pose de pessoa perfeita quero continuar passando longe e Deus me livre saber que a minha kriptonita são hipopótamos nadando. Mas não posso negar a fé que eu tenho na humanidade, a esperança que eu deposito nas pessoas e nem a presença de espírito pra não arrastar a cara delas no asfalto.
Na próxima seção, minha terapeuta vai ter muito o que anotar.

domingo, 27 de maio de 2018

Um ano atrás eu achei que não ia sobreviver nem ao próximo dia, que dirá ao próximo ano todo.
Doía, fisicamente, eu sentia falta de ar, aperto no peito e aquela sensação de que fiz sim tudo errado, sou sim culpada de tudo e as pessoas vão embora porque não conseguem me aguentar.
Um ano atrás eu vi todos os meus planos de curto a longo prazo caírem por terra como um castelo de cartas mal montado. Eu vi todas as ideias mirabolantes, todas as parcerias, todos os sonhos sonhados juntos indo pelo ralo de uma forma tão conclusiva que me pareceu nunca mais ser possível sentir de novo, planejar de novo, acordar outra vez sem sentir o peso esmagando meu peito e me impedindo de respirar.
Eu, conclusiva e desesperada, cheguei a conclusão de que era isso, que eu havia tido uma versão de testes do que poderia ser uma vida feliz e depois que me apeguei a ela, o tempo acabou e eu não tinha opção de comprar o pacote premium.
Achei que era pra sempre aquela infelicidade, como tinha achado que era pra sempre aquela felicidade. E foi, pra sempre no período de tempo que ela tinha que durar, infinita enquanto durou já diria o poeta, mas como chama não era imortal.
Foi intenso, gratificante, angustiante. Me fez querer arrancar os cabelos, morrer de alegria ou chorar de desespero. Me fez descobrir coisas que eu achava que eram invencionices de livros românticos, viver cenas clichês de comédias disfuncionais e achar que tinha descoberto o que era amor.
Às vezes me injuriava, às vezes eu até pensava que o amor tinha acabado e que talvez fosse melhor se separar, mas via tudo que tinha sido vivido e construído e chegava a conclusão de que era assim mesmo. De que era apenas eu, mais apaixonada pelo processo do que pelo produto, sentindo falta da emoção do período de incerteza, talvez fosse, talvez não. Talvez já fosse eu sabendo que aquilo teria que chegar ao fim, para o bem das nossas sanidades mentais, porque foi bom enquanto durou mas não estava mais sendo bom.
E o cérebro te engana, te produz lembranças apenas incríveis e faz parecer que nunca houve nada de ruim a ser pontuado, levado em consideração ou sequer importante, como se fossem anos perfeitos de lembranças âmbar felizes e você podia se lembrar de cada toque, cada cheiro e a saudade fazia doer mais apertado por saber que aquilo não estava mais no seu alcance.
Com o tempo fui re-experimentando a liberdade de não ter que agradar ninguém além de mim, de fazer e dizer o que eu bem entendesse sem me preocupar se aquilo geraria o maior conflito do século. E depois de achar durante muito tempo que ia morrer no processo, renasci, pra me reencontrar e perceber que talvez tenha me perdido demais tentando te encontrar e ser pra você aquilo que eu queria que você fosse pra mim.
Fomos muito bons juntos, seguimos e afirmo sem dúvidas de que talvez somos ainda melhores agora, separados e depois de aprender tanto um com o outro.
Todo sofrimento gera crescimento, mas toda alegria também e essa experiência toda me gerou aquilo que eu busquei a vida toda, amor.
Se não era o amor que ia ficar de mãos dadas comigo no asilo, bem paciência, mas foi o amor que me guiou pela faculdade, me tirou da beira do trilho do trem e me fez perceber que eu tinha potencial pra ser AMADA.
Foi o amor que me fez entender que tá tudo bem acabar, que existe vida pós tristeza, o amor que me provou que sempre há um lugar pra amar, mesmo que aquilo não seja mais esse tipo de amor.
Foi transformador, vai comigo até o fim, mesmo depois que eu encontrar um novo amor. Porque foi o amor que me lembrou de agradecer os que eu tenho comigo, me provou que nunca estou sozinha e me fez ter fé que se eu pude viver um amor desses, quem sabe o que me espera nos próximos amores.
Fica a gratidão pela coragem de ir e me deixar ir, de saber que é melhor assim e de ter vivido o amor dos meus sonhos até sonhos novos terem surgido.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Once upon a time

Uma vez um amigo deixou coisas comigo e eu escrevi isso, se foi aos 18, esse ano o texto completa 6 anos. Deixo aqui, para nunca perder o que eu disse uma vez sobre canetas bics e cachinhos e fazer 18...
Tô quase roubando sua caneta. Bics pretas são irresistíveis. É eu não sei acentuar as palavras mas enfim, bics são poéticas. Só as pretas, elas deslizam suaves sobre a folha e sua tinta é negra como as asas de um corvo e não cinza como céu de tempestade.
Essa divagação toda é graças a dificuldade que eu tive em encontrar uma caneta pra colocar na bolsa junto com meus caça palavras ou seriam cruzadinhas? Acho que são cruzadinhas. Comprei alguns na bienal. É um vício e ainda é útil, deixa mente ágil e traz lições interessantes. São eles que vão me entreter amanhã enquanto eu espero para tirar a foto da habilitação.
Tô tão ansiosa, essa é a segunda coisa que eu vou fazr com 18 anos que só se pode fazer com 18 anos. A primeira foi naquele rolê lá. Tô meio abalada, me sentindo mais velha e ansiosa pra sentir o controle sobre a máquina e o vento nos cabelos, a música explodindo no rádio e eu realizando um sonho de infância.
Engraçado como tanta coisa muda e tanta coisa permanece. Meus sonhos de infância alguns se realizaram, outros viraram poeira no vento, alguns, quem sabe, ainda estão por vir. É estranho sonhar uma coisa e ver acontecer.
Mas mais estranho é ver como os desejos, anseios e até mesmo a aparência mudam com o passar dos anos. Isso me lembra o motivo real desse texto.
Não é a caneta, a CNH ou os sonhos despedaçados mas sim a coisa mais imutável que eu tenho e que eu queria deixar pra você. Minha essência

desenho de duas de você com setinhas para a frase "MEUS CACHINHOS!!!"

Ninguém mandou você largar seu caderno no meio da minha bagunça. Eu o devolvo assim, com palavras desconexas e caracóis nos cabelos.

Ass.