quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Super eu?

Detesto o super-homem.
Sempre detestei, aquela pose de pessoa perfeita, os cabelos que não despenteiam, os surtos que o transformam em ditador, o patriotismo doido. Nunca, nunca consegui ter um pingo de empatia por ele.
Legal era o Batman, o ar de mistério, o jeito taciturno de quem resolve tudo. Ou o Flash e sua alegria diretamente proporcional à sua inteligência. Até mesmo o Aquaman, naquela versão tosca que surfa em golfinhos me deixava mais feliz, ou o supergemeo que só sabe ser derivados de água, mas o superman nunca me desceu.
Achava impossível alguém manter aquela pose o tempo todo, ser tão compenetrado. Caramba, como que o infeliz tem a força de destruir o mundo todo e não faz nada? E quando faz é porque virou doido varrido e aí sai matando até o que não deve?
Não, não dava pra gostar do superman, ele não faria parte da minha incrível coleção de camisetas, não seria eu a usar o símbolo da esperança no peito, ou seria?
Sempre expressei minhas opiniões nada positivas sobre o "homem de aço" (olha que breguice) e quando pensava: " e se eu fizesse parte da Liga da Justiça, quem eu seria?" Eu nunca conseguia me incluir no grupo, não achava que eu podia ser parte de nada do gênero (não só porque eles não existem e eu não tenho super poderes), mas porque não me identificava com nenhum deles, não me via como protagonista de nada disso.
Pode parecer bobagem, mas eu raramente me identifico com o protagonista do que quer que seja, no  máximo tô ali no papel de amiga esquisita, quando me identifico como a melhor amiga da personagem já é uma vitória. Eu sou corpo de baile, não sou solista. Tô ali, presente e apoiando, mas na luz indireta nunca sob os holofotes. Se a ideia já me soa maluquice no faz-de-conta, na vida real então é beirando ao impossível.
Ontem o faz-de-conta deu três tapas e duas voadoras na minha cara. Ontem eu entrei num processo reflexivo tão intenso quanto as seções de terapia, ontem um amigo querido me disse que eu era o superbobo.
Eu esperneei, eu entrei em negação, eu usei todos os "mas" que eu tinha, um depois do outro eles caíram por terra. Coisinha após coisinha me provaram por a + b que se eu fosse alguém com poderes, eu seria o super.
As coisas esquisitas às vezes guardam verdades profundas, me fizeram olhar pelo espelho que eu evitei uma vida toda. Eu que nunca tive muita empatia por mim mesma, que convivo com a angústia de achar não ter feito o suficiente, que se não me segurar machuco as pessoas profundamente, que sinto amor pela vida, o universo e tudo mais, desejo o bem até a quem já me fez mal, eu tinha muito mais em comum com o boboca azul do que tinha me dado conta.
Parte da doideira de se achar fraca é nunca, nunca se identificar com ninguém forte. Com um dos heróis mais poderosos que o homem já inventou? Por favor, conta outra.
Parte da magia de ter as pessoas por perto é elas te enxergarem por um viés que você não tem.
Talvez eu ainda tenha que trabalhar na parte de manter o cabelo no lugar e aquele uniforme é irritante. Da pose de pessoa perfeita quero continuar passando longe e Deus me livre saber que a minha kriptonita são hipopótamos nadando. Mas não posso negar a fé que eu tenho na humanidade, a esperança que eu deposito nas pessoas e nem a presença de espírito pra não arrastar a cara delas no asfalto.
Na próxima seção, minha terapeuta vai ter muito o que anotar.

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